Privataria, o Brasil levou um cano

Assim que chegou as livrarias, no dia 9 de dezembro de 2011, o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. – não, não é o Amaury Jr. das socialites – intitulado A Privataria Tucana foi simplesmente ignorado pelos jornais de grande circulação e a maioria dos canais de TV aberta e fechada.

Mas de acordo com a Revista Veja, a Privataria (termo que une as palavras privatização e pirataria) é o livro mais vendido da categoria não-ficção nas últimas sete semanas, ou seja, desde que foi lançado. Nem o silêncio da mídia conseguiu conter a força do escândalo das privatizações de empresas públicas nos governos neoliberais de Fernando Henrique Cardoso. Contudo, o livro tem outro personagem principal, o tucano José Serra. Segundo as investigações de Amary Ribeiro Jr., o esquema de lavagem de dinheiro da propina recebida pelos leilões das empresas públicas brasileiras era comandado por Serra e operado por uma rede de amigos e familiares.

Através dos capítulos do livro, Amary vai montando um quebra cabeça que liga altos funcionários de empresas públicas indicados pelo governo federal na época como é o caso do ex-tesoureiro da campanha de Serra para presidente e ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira – o Mr. Big –, banqueiros da estirpe de Daniel Dantas e arapongas como o ex-deputado federal pelo PSDB do Rio Marcelo Itagiba. Este último chefiou a Secretaria de Segurança da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na época em que Serra era Ministro da Saúde. De acordo com Amary, o gabinete era na realidade um escritório de investigação para montagem de dossiês contra inimigos políticos de José Serra.

Além de arapongagens, altíssimas propinas e lavagem de dinheiro, o livro traz informações interessantes sobre o “mau negócio” que representaram as privatizações. Sem entrar no mérito político sobre se as privatizações podem vir a ser um bom negócio ou não, Amaury resgata alguns dados como o balanço do processo de privatizações publicado pelo jornalista econômico Aloysio Biondi em seu best-seller O Brasil Privatizado. Foram gastos 87,6 bilhões entre dívidas absorvidas, investimentos para tornar as estatais vendáveis, uso de moedas podres, passivos trabalhistas e etc, enquanto apenas 85,2 bilhões foram arrecadados. O Brasil pagou 2,4 bilhões para vender suas empresas.

O material que serviu de base para o livro vem sendo coletado desde 2000, quando o jornalista ainda trabalhava para O Globo. É no mínimo irônico que documentos chave para a investigação tenham vindo parar nas mãos de Amaury por causa de um processo de Mr. Big contra o autor devido a uma matéria veiculada pela Isto É. A CPI do Banestado, enterrada por um acordo de lideranças no Congresso Nacional é tão rica em documentação comprobatória da farra tucana que já estão dizendo por aí que a CPI da Privataria não passará de uma reedição. Aliás, com a recente privatização dos aeroportos, parece que essa não á a única reedição que veremos circulando por aí.

A Privataria Tucana (2011) - 343 páginas

Amary Ribeiro Jr.

Geração Editorial