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Servidores do Iphan-MT aderem à paralisação nacional da Cultura

"Um país sem memória, ou que não cultiva a recordação das coisas, está irremediavelmente condenado."

 

Baptista-Barros*

 

 

Enquanto servidores públicos federais se reuniam com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, servidores do Ministério da Cultura estavam reunidos com a ministra Marta Suplicy. A categoria está em greve desde o dia 12 de maio e a expectativa era de conseguir apoio da ministra nas negociações, travados no Ministério do Planejamento desde 2007. Carvalho se comprometeu a intermediar discussões sobre a necessidade de abertura de diálogo real entre os SPFs e o governo e a ministra Suplicy, diante das limitações do orçamento, propôs que apresentassem um plano B. Ou seja, nada foi resolvido.

Além da Cultura, também estão em greve os servidores técnicos administrativos das universidades, dos institutos federais de educação e do IBGE. Servidores da Justiça podem engrossar o movimento nos próximos dias. A plenária nacional realizada pela Condsef no final de maio aprovou um calendário de atividades para dar continuidade às mobilizações. Foram agendados diversos dias nacionais de luta, dentre eles nos dias 10 e 25 de junho e 3 de julho, que devem ser realizados em vários Estados brasileiros, com diversas categorias do setor público. O objetivo dessas atividades é ampliar a luta dos servidores no processo de negociações com o Ministério de Planejamento.

Até o momento não foi apresentada nenhuma proposta e, portanto, não há prazo para que o movimento grevista termine e novas adesões estão surgindo a cada dia, como é o caso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Estado de Mato Grosso (Iphan-MT), que paralisam as atividades nesta segunda-feira, 9, com apoio do Sindsep-MT. Os grevistas reclamam da falta de condições de trabalho, reivindicam a negociação de gratificações por titularidade, a equiparação salarial com funcionários públicos da Agência Nacional de Cinema e da Fundação Casa Ruy Barbosa, além de maior participação na formulação das políticas públicas na área de cultura.

Outros motivos que levaram os servidores do Iphan (único órgão no Estado vinculada ao MinC) a paralisar são: salários congelados desde 2007; Diversos acordos não cumpridos desde 2005; Um dos poucos órgãos do governo federal sem plano de carreira; Salários mais baixos do Poder Executivo; Estrutura física sucateada, tendo os servidores muitas vezes a gastar o próprio salário para se ter o mínimo de condições para exercer as atividades diárias e também grande evasão dos servidores em virtude dos problemas explicitados. Mais sobre a greve do Iphan-MT na página seguinte.

*Armando Baptista-Bastos (Lisboa, 27 de Fevereiro de 1934) é jornalista e escritor português.

 

Muito trabalho, pouco reconhecimento

Segundo as servidoras Maria Elisa Campos Pereira e Karina Nascimento de Oliveira, a capital mato-grossense tem hoje cerca de 400 imóveis tombados no Centro Histórico e 600 na área de entorno, fora a igreja do Rosário, que tem sua importância histórica reconhecida isoladamente. Quanto à reforma e manutenção dos casarões, a autarquia não injeta dinheiro, por ser área particular, com exceção do proprietário que comprove que não tem realmente condições de preservar o imóvel. 

"Os imóveis abandonados, tentamos resolver administrativamente, mas quando não é possível entramos na Justiça, onde já existem alguns casos. A problemática dessas áreas é que são imóveis que pertencem a famílias e não a uma pessoa especificamente. Problemas de espólio, famílias que não abrem inventário, dificultando com isso, a responsabilização do proprietário. Enquanto isso o imóvel vai sendo degradado". 

Sobre as obras de grande porte, como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que vai passar no entorno da área tombada, uma resolução do Conama diz que além da licença ambiental, é necessário ter a licença arqueológica para dar sequência ao empreendimento. É o caso das desapropriações e demolições perto do Morro da Luz, onde todo processo foi enviado para Brasília porque não havia um arqueólogo na superintendência.
"Outro trecho onde é proposta a ampliação, do Largo do Rosário, localizado no entorno da área tombada, não possui as mesmas restrições da área tombada e por isso se viu a viabilidade da obra no local, mais conhecido como Ilha da Banana, lembrando que o projeto se encontra em fase de análise", acrescentam. 

Estrutura física e pessoal - Além de goteiras nos dias chuvosos, cadeiras inapropriadas para trabalho e parte elétrica danificada, a autarquia sofre com problemas de logística principalmente quando chegam novos funcionários terceirizados (alguns chegam a ganhar quase o dobro de salário dos efetivos) que ainda precisam ser treinados. Para José Olímpio da Silva Neto e Adriano Orivaldo Barros, servidores do Iphan, o lado ruim é que estes terceirizados, após adquirirem todo o conhecimento, nada impede que o pessoal de Brasília, em uma decisão unilateral, faça dispensas destas pessoas pondo o nosso trabalho em vão e que ainda acabam saindo com informações privilegiadas. É preciso investir mais nos efetivos e fazer novos concursos".

Além do patrimônio cultural material, O Iphan também luta pelo patrimônio imaterial que são manifestações culturais, expressões, saberes e lugares de grande representatividade cultural. O expediente do instituto é de 40 horas semanais, divididos em dois turnos: na parte da manhã expediente interno e na parte da tarde é aberto ao público e conta ainda com uma biblioteca, frequentada na sua maioria por estudantes.
O Iphan-MT localiza-se à Rua 7 de Setembro, nº 390, Bairro Centro Norte, no centro histórico de Cuiabá. Telefone (65) 3322-9904.

 

 

A triste realidade do Instituto no Mato Grosso

O Iphan foi criado em 1937, com a missão de fiscalizar, proteger e preservar toda história do Brasil. Em Mato Grosso, o órgão conta com mais de 3 mil imóveis protegidos, divididos nas cidades de Cuiabá, Cáceres, Chapada dos Guimarães e Vila Bela da Santíssima Trindade, que contam a história deste Estado, o seu surgimento e desenvolvimento.  Toda essa demanda de fiscalização, análise de projetos, orientação e atendimento ao público ficam a cargo de apenas 3 arquitetos e 1 técnico em edificações. Já no campo arqueológico, Mato Grosso possúi mais de 700 sítios arqueológicos que devem ser fiscalizados pelo instituto, mas não possui nenhum servidor efetivo para exercer a atividade. Na questão do patrimônio imaterial (se enquadram o registro do modo de fazer da viola de cocho, registro do ritual Yaokwa da tribo indígena Enawene Nawe, o modo de fazer das bonecas das tribo indígena Karajás, a roda de capoeira, ofício dos mestres da capoeira), se faz necessário a presença de servidor como historiador, antropólogo ou profissões afins, mas o Iphan-MT também não possui nenhum. Quanto aos trabalhos de educação patrimonial, cursos, exposições, realizações de oficinas que fazem parte do trabalho de conscientização da comunidade, também não são realizados a contento, pois mais uma vez não há profissional para trabalhar nesta área.

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