Para debater os desafios e definir estratégias de luta da CUT na defesa da classe trabalhadora em um cenário de retiradas de direitos já anunciado pelo governo interino e golpista de Michel Temer, dirigentes (da pasta de Relações do Trabalho) das CUTs estaduais, das confederações, federações e sindicatos de diversas categorias em todo país reuniram-se no auditório do Sindsep/DF nessa quarta-feira (1º). Os sindicalistas, após palestras e debates, deliberaram pelo fortalecimento do Dia Nacional de Luta e Paralisações que será realizado no próximo dia 10 e pela construção de uma greve geral em defesa da democracia e da classe trabalhadora e pela ampliação das mobilizações em todos os níveis (municipais, estaduais e nacionais),
Em menos de um mês de governo, Temer e sua equipe já anunciaram uma reforma da Previdência Social que pode desaparelhar o sistema de proteção previdenciária, extinguiu ministérios fundamentais para os direitos sociais e sinalizou muitos outros pontos extremamente nocivos para a classe trabalhadora, população de baixa renda e a sociedade em geral, como o fim do Sistema Único de Saúde, o SUS.
“A classe trabalhadora sempre teve uma imensa capacidade de mobilização. Precisamos nos organizar e pressionar todos os senadores, pois ainda dá tempo de reverter esse golpe. Temos um duplo desafio: pressionar o Senado a votar contra o golpe de estado em andamento e não permitir que o governo Temer continue esse desmonte do Estado e dos programas sociais, antes que seja irreversível para as riquezas e direitos do povo brasileiro”, afirma o coordenador da Contracs, Luiz Saraiva.
Responsabilidade de luta
“Entendemos a nossa responsabilidade enquanto a maior central sindical desse país e uma das maiores do mundo num momento de extrema dificuldade para a classe trabalhadora brasileira. Só vai acontecer uma reação ao golpe se a CUT dirigir. Apesar de alguns setores declararem que não têm nada a ver o impeachment e os direitos dos trabalhadores, sabemos que são pautas intimamente ligadas, que não dá pra separar”, afirma o dirigente nacional da CUT, Pedro Armengol.
Para o dirigente CUTista, os pequenos avanços sociais conquistados no último período foram inaceitáveis para a elite brasileira. “Vivemos uma luta de classes, que extrapola o debate ideológico e a disputa de poder. Independente do que acontecer no desdobramento desse processo, vamos continuar na luta, porque o Congresso Nacional continua o mesmo e a pauta continua a mesma”, afirma Armengol.
Projeto nefasto
Para o assessor técnico do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Neuriberg Dias, Michel Temer representa uma grande ameaça, sobretudo porque possui base no Congresso para aprovar qualquer projeto contra os trabalhadores. “O perfil do governo Temer é conservador, liberal, sintonizado com o mercado empresarial e comprometido com os setores que viabilizaram sua entrada. A base de aprovação para as matérias é de aproximadamente 350 votos. Por outro lado, não há apoio social, mas uma pauta bomba para a classe trabalhadora (que está na Agenda Brasil), pois a base de apoio do governo Temer vai querer mais espaço”, afirma Neuriberg.
“Tudo o que a gente conquistou com muita luta está ameaçado por Temer. A proposta desse governo é de um estado mínimo com desmonte das políticas públicas de proteção social. Já atacou Minha Casa-Minha Vida, Bolsa Família, os programas de acesso à educação, como o Prouni e o Fies, extinguiu ministérios que nasceram da mobilização dos movimentos sociais e da classe trabalhadora. Esse momento é um neoliberalismo muito agressivo, bem mais do que a gente debateu no fim da década de 80 e no início da década de 90”, avalia a diretora nacional de Relações de Trabalho da CUT, Graça Costa.
Disposição de luta
“Os trabalhadores desse país têm sido guerreiros e guerreiras na luta pela democracia. Graças a essa unidade e disposição de luta, o golpe está sendo desmascarado para a sociedade e todos estão vendo que esse grupo que tomou o poder está destruindo o Brasil”, afirma o coordenador da Contracs, Luiz Saraiva.
Reafirmando posição ao lado da classe trabalhadora, a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) participou do evento e realizou uma análise macroeconômica, explicando para os sindicalistas de onde veio a crise mundial que reacendeu no capitalismo o discurso de austeridade e ajuste fiscal. “Essa crise financeira que todos usam como justificativa para retirar direitos sociais, não foi causada pela sociedade e nem pelos trabalhadores, mas pelo capital privado. Começou com a crise imobiliária nos Estados Unidos por volta de 2007, posteriormente atingiu a Europa e chegou ao nosso país muito depois”, explica a senadora.
De acordo com Gleisi Hoffman, após o capital privado conseguir quebrar o sistema financeiro dos EUA, o país resolveu resgatar os bancos, que detinham salários, investimentos e poupança dos trabalhadores. Assim, a dívida criada pelo capital privado passou para o setor público, para evitar problemas ainda maiores em meio à crise. “Calcula-se que o impacto da crise imobiliária dos EUA chega a 13 trilhões de dólares e que o governo americano gastou mais de 2 trilhões para salvar os bancos. Ao mesmo tempo, a crise já havia se alastrado pela Europa, que comprou vários títulos americanos. O modelo adotado pelo estado americano também vigorou no continente europeu, que assumiu as dívidas do capital privado e daí começa o discurso de que é necessário um ajuste fiscal, que o estado gasta muito com políticas sociais, com previdência, e é necessário enxugar esses gastos”, explica a senadora, que também lembrou a época que a crise chegou ao Brasil e foi combatida pelo ex presidente Lula com políticas anticíclicas, com estímulo e mais crédito à produção e ao mercado de consumo, gerando emprego e renda, sem mexer nos direitos da classe trabalhadora.
Gleisi Hoffman também parabenizou a CUT pelas mobilizações contra o golpe dentro e fora do parlamento. Para a senadora, a Central cumpre papel fundamental em todo esse processo histórico, inclusive ajudando os parlamentares a manter a resistência democrática dentro da Casa. “Desde que começamos a discutir o processo de impeachment, são vocês e os movimentos sociais que estão nas ruas. Hoje vemos muitos senadores com vergonha e arrependidos de seus votos, acredito que temos condições de reverter essa situação, mas isso só foi e será possível com a força de vocês, já que temos uma Câmara ultraconservadora, um Senado um pouco mais progressista e nós resistindo com a força das ruas. Realizaremos oposição sistemática, e denúncias sistemáticas sobre o que está acontecendo em nosso país”, afirma Gleisi Hoffman.
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