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Helder Molina: “Nossa agenda é imediata, não vamos esperar 2018”

 

Helder Molina é natural de Rosário Oeste (MT) e criado no bairro da Manga, Várzea Grande. Estudou História na UFMT, militante de esquerda desde os 17 anos, participou do DCE e da UNE e saiu de Cuiabá em 1989 rumo ao Rio de Janeiro onde hoje é professor na UERJ. Já ministrou vários cursos de formação sindical pelo país e em Cuiabá. No XI ConSindsep participou do debate sobre a conjuntura política e ajudou na sistematização e organização do evento e foi bastante elogiado pela palestra sobre a história do Brasil desde os primórdios até os dias atuais.

No debate que foi realizado pelos congressistas, Molina disse que a atual conjuntura é de fascismo, estado de exceção, de golpe de retirada de direitos históricos construídos e conquistados pela classe trabalhadora nos últimos 40 anos e outras antes como é o caso da CLT, do período Vargas. A CLT é um patrimônio nosso. Todos esses direitos estão ameaçados neste contexto em que os movimentos sociais e sindicais estão  de certa forma na defensiva e na resistência contra esses vários aspectos do que nós chamamos de golpe.

Respondendo a um dos debatedores sobre a atual crise política, foi categórico em afirmar que o golpe não é contra Lula, PT ou Dilma. “O golpe é contra os nossos direitos. A gente não reage ao golpe de imediato pois o golpe tem uma complexidade e causa perplexidade e é muito difícil esclarecer para a população. “Eu sou professor de História e tenho dificuldade de entender o que está ocorrendo no Brasil. Têm vários intelectuais, pensadores e vários movimentos pensando, tentando entender  o que está acontecendo. Eu admiro muito quem já tem a resposta pronta, porque a gente está num processo de metabolização do que está acontecendo. E diante de um golpe de tamanha envergadura tem uma reação de perplexidade. Por exemplo, a esquerda se institucionalizou no últimos 13 anos e passou a gostar de gabinetes, de estruturas próprias. Muita gente da esquerda achou que tinha chegado ao paraíso em 2002, que a gente tinha chegado ao “reino dos céus”, que o salvador era Lula, o Messias que veio para fazer a redenção do Brasil.”

O “mea-culpa” da esquerda - Muita gente dos movimentos sociais depositou mais ilusões do que deveria. Desconhecia o processo histórico-político brasileiro, desconhecia a estrutura de classe, de poder das classes dominantes do Brasil. O Partido dos Trabalhadores  não estudou e conhecia muito pouco o Brasil. Ou não conhecia ou tinha uma grande ilusão do que conhecia, do que achava que conhecia. Então, não chegamos ao paraíso, não temos nenhum Messias. A luta de classe é que define o processo histórico. Então nós avançamos de acordo com nossas possibilidades, porque a gente não joga sozinho. A gente joga contra um adversário forte. Hora nosso time avança, hora nosso time perde. Isso parece que alguns estão entendendo.

“Todos os partidos de esquerda que foram subversivos e submeteram a lógica do Estado e tomou o Estado como fim, abandonaram a luta social e muitos deles se corromperam. Isso é processo histórico. Na Europa, na América Latina... a ilusão institucional é muito forte e perigosa. Mas também não é possível conquistar direitos fora da luta institucional. Todas as nossa lutas batem no Judiciário, batem no Legislativo ou batem no Executivo. Então têm que ter canais de negociações. Por exemplo: muito militantes aqui negam a importância dos partidos políticos e sindicatos. O sindicato tem um limite enorme. O que faz avançar o direito é a luta política. Por isso que a luta política amplia a perspectiva do direito mais do que a luta sindical. Mas o sindicato é importante. Tem muita gente que é bom militante no sindicato mas vota em partido de direita. Tem muita gente que faz greve, mobilização, é honesto, mas na hora do voto, vota nos partidos que têm a chibata que bate nos trabalhadores. Então não consegue dimensionar a luta sindical como parte da luta política, não consegue entender que a luta sindical corporativa ela tem um limite."

A gente tem constrangimento e digo até, covardia, de apoiar candidaturas comprometidas com a nossa pauta porque nós achamos que a pessoa é boa só para luta sindical. Quando vai para a luta institucional, para a luta político- partidária ela não serve. A direita faz exatamente o contrário. Ela bota os seus melhores quadros para disputar porque a luta pelo Parlamento é importante para ela porque mexe com dinheiro, mexe com o orçamento, mexe com o fundo público. Colocar em debate uma candidatura do movimento sindical  com apoio e estrutura parece um pecado mortal, mas depois não entende porque o Congresso Nacional é de direita, porque a Assembleia Legislativa é de direita, porque o governador manda bater na gente. É porque a gente separa a luta sindical corporativa da luta política.

Não vamos esperar até 2018 - O cenário da negociação coletiva agora serão muito mais difíceis, continua Molina. Não sou daqueles que  tapam o sol com a peneira de dizer que os governos de Lula e Dilma nesses doze anos não erraram. Tiveram profunda ilusão de classes, tiveram ilusão com a governabilidade, fizeram concessões, manteve a política monetarista, manteve os juros altos, não mexeu na questão agrária e urbana. Mas não mandava a tropa de choque bater  na gente, não revogava os nosso direitos apesar de se debater com a gente. E o cenário que vocês vão ver agora em 2017 vai ser de terra arrasada, é aquilo que a gente chama de vingança do capital contra o trabalho. É aquilo que o neoliberalismo está fazendo na Europa com o bem estar social. Essa política de terra arrasada é que é o golpe. Então vamos ter que fazer enfrentamento na luta social mas fazer também na luta institucional.

“Nossa agenda é imediata, porque os nossos direitos não esperam 2018, porque se esperar até lá, não teremos direitos. Porque o capital precisa fazer os cortes dos direitos imediatamente. Michel Temer foi colocado para fazer o trabalho já, de imediato, para não dar tempo de reação, para deixar a gente batendo cabeça. Tem o Judiciário a serviço dos caras, tem o Legislativo a serviço dos caras. Antonio Gramsci falava assim: 'Nós temos um novo bloco histórico hegemônico do capital contra o trabalho'. Michel Temer só é o cavaleiro que passou com o cavalo encilhado, mas ele nem  sequer consegue montar o cavalo”.

É possível uma utopia - Nós estamos perplexos. O inimigo é maior que nós mas não é invencível. Nós criamos os nosso erros, cometemos muitos erros, mas nós aprendemos. Não é possível que desse processo a esquerda não aprenda. Passamos por uma ditadura militar, logo depois por um período de liberdade democrática, agora a gente está vivendo o que é estado de exceção. O Rio de Janeiro é exemplo disso. A Assembleia Legislativa está cercada de grades, tropa de choque, da Segurança Nacional, Cavalaria e um monte de fascistas organizado por Bolsonaro para bater em professor.

Quem reclamou de Lula e Dilma, vai chorar agora com o Temer. Quem achava que estava ruim, não sabe o que é remédio amargo, porque se nós cercarmos o Congresso agora vai tomar porrada. Temos que acordar. É possível ter utopia aos 55 anos, aos 60, aos 65, aos 70... É possível ter utopia a uma semana da morte. O que não pode é morrer mais cedo, ficando com o discurso de conformado e procurando culpados. Há um processo de anestesiamento da sociedade e a mídia golpista cumpre esse papel. O projeto deles é para 20 anos de arroxo. Temer é provisório, Temer é golpista!

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