Quinta-feira, 25 de  abril de  2024 

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“Temos que sair do nosso quadrado e debater com a sociedade”

 

Aproveitando uma folga após um longo dia de debates no XI ConSindsep, o Secretário-Geral da Condsef, Sérgio Ronaldo da Silva, pernambucano “cabra macho” como gosta de frisar, concedeu uma entrevista para o jornal “O Compromisso”, sobre a situação da atual conjuntura política brasileira. Para ele se faz necessário um grande debate com a sociedade. Mas como implementar isso, se a mesma se encontra anestesiada diante de um governo golpista, um Congresso conservador e um Judiciário hipócrita?

Eu acho que nós devemos sair da mesmice do debate interno e começar a ter uma dinâmica diferente, dialogar com a sociedade e deixar essa teórica de somente ficarmos no nosso condomínio defendendo aquele pedacinho nosso. As coisas vão  acontecendo lá fora. Ou a gente tem a capacidade de construir uma plataforma discutindo com a sociedade de que hoje, mesmo o país  ter um regime  presidencialista, o que funciona é o parlamentarismo, porque quem manda no país são os parlamentares e a gente vai ter que mudar isso, com diálogo franco com a sociedade, com a essa juventude que está aí mostrando que tem uma boa base para mudar esse cenário para o futuro. O tempo está curto até 2018, mas é preciso iniciar essa discussão. Há tempo, mas é preciso começar. Se iniciarmos esse debate com a sociedade, abrir as nossas pautas, explicando todos os detalhes de quem está sendo prejudicado, quem está sendo excluído das questões sociais, é a própria população, aí nós poderemos inverter essa lógica.

Qual a sua opinião sobre a recentes decisões do STF? -  Há muito o Supremo Tribunal Federal deixou de ser a guardiã da Constituição, de cumprir com seu papel. Na nossa visão o STF se transformou em um dos entes políticos e faz política diuturnamente o que não é a missão e a função dos ministros do Supremo. Na nossa avaliação eles estão legislando muitos em causa própria, o que  é a função do Parlamento. O STF é o guardião das leis e a ele o cidadão  deve recorrer para resguardar seus direitos. Infelizmente as atitudes que eles têm tomado, tanto recentemente, como nos períodos anteriores não caminham para esse sentindo. Então até a forma de se escolher os ministros teria que mudar porque se ele está lá é de acordo com o pensamento do governo de plantão.

Através do voto direto? - Teria que ter uma forma, não pode ser  como está. O governante de plantão vai lá, indica, e o Congresso homologa. Acho que deveria ter critérios mais qualificados, poderia ser voto direto entre a magistratura mas que não fosse só  prerrogativa do presidente da República. Jamais vi o Senado rejeitar qualquer indicação que foram feitas pelos presidentes. Essa forma de escolha que deve mudar.  

E sobre a seletividade da Lava Jato e da mídia golpista? – Eu acho que é óbvio e se percebe com muita clareza a seletividade que está apresentada na questão de criminalizar um partido político, que no caso é o Partido dos Trabalhadores e passar a mão na cabeça dos demais. As evidências são claras diante dos últimos fatos. A perseguição, a caça incansável aos dirigentes e aos partidários do PT enquanto sabemos que outros partidos, quase em sua totalidade, fizeram igual ou pior. Que fique claro que não defendo os maus feitos   sejam colocados para baixo do tapete mas que seja uma regra para todos.  Os erros do PT têm que serem revistos e combatidos. Agora a corrupção não foi criado pelo PT. A corrupção no Brasil é histórica. A forma como eles estão perseguindo literalmente um partido de esquerda isso não é bom para a democracia do país.

Lula 2018 é possível? – Na verdade o Lula hoje, diante de todos que se apresentam como postulantes à presidência, é imbatível. Agora, a caça incansável do Judiciário  tentando produzir provas que até hoje não conseguiram é para justamente para tentar afastar Lula do cenário político porque sabem que se tirarem Lula do circuito, abre as porteiras para que eles continuem com o esse projeto nefasto que está sendo implementado pelo ilegítimo Michel Temer. Colocaram o Temer para iniciar o serviço, os demais estão tentando anular o Lula para continuar com essas maldades que estão sendo implementadas.

Você concorda que a PEC 55 engessará os próximos presidentes? -  Concordo literalmente. Essa plataforma desses  golpistas iniciou-se nos 8 anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, que criou a base para isso e agora vem o chamado “Ponte para o Futuro”, vindo da turma do PMDB e está explícito que esse é o projeto deles. Até 2018 na ideia deles,  estruturam essa base e evidentemente quem for eleito em 2018, com essa PEC55, praticamente ficará engessado, algemado as mãos e os pés, independente se for de direita ou de esquerda porque estará lá na Consti-tuição que não pode ter nos próximos 20 anos investimentos pujantes na educação, na saúde, nas áreas sociais, no serviço público. Se isso acontecer de fato, não vai valer a pena ser presidente da República nos próximos 20 anos. É um projeto que tem que se combatido diuturnamente para que ele não tenha êxito nesta segunda fase no Senado.

É possível reaglutinar a esquerda? A esquerda brasileira não aprendeu com a lição desse golpe que aplicaram recentemente no país. O exemplo foram as eleições municipais deste ano. Se tivesse unificado, o resultado poderia ser menos drástico. Se isso não serviu de lição para a esquerda, de se reorganizar, se reagrupar para enfrentar esse neoliberalismo que está em ofensiva, a perspectiva é que o pior ainda está por vir. Acho que a oportunidade das esquerdas e o movimento sindical responsável tem que fazer esse debate urgente porque o cenário que se apresenta daqui pra frente vai requerer muita unidade desse setor para enfrentar o total desmonte que está vindo pela frente.

Sobre o XII Concondsef – É um momento ímpar que nós não podemos perder a oportunidade de discutir alternativas de saídas. Esse é o momento que 95% do tempo que temos para nos dispor para debater esse cenário e buscar soluções. Existe. Não temos ainda, não é igual a uma receita de bolo mas acredito que há disposição nesse sentido de organizar resistência para enfrentar esse desafio que hora se apresenta.

Com a PEC 55 aprovada, será o fim de um ciclo de conquistas sociais? – Na linha do que estão fazendo é isso mesmo. As conquistas que foram grandiosamente alcançadas na Constituição de 88, elas estão sendo gradativamente desmontadas através dessas PECs, de interesses alheios às questões sociais. O desmonte do SUS é um deles. Se há problemas nessa área, a tendência é agravar mais ainda com o congelamento nas áreas sociais. Com essa ofensiva, o neoliberalismo quer de todas as formas retirar na “mão grande” o que foram conquistas duras no processo da construção da Constituição de 88. Aliás, eles já a esfacelaram quase que na sua totalidade. Agora é o rito sumário com esses ataques que estão fazendo.

Com toda essa insegurança gerada por esse governo ilegítimo, onde estão os que bateram as panelas? - Eles estão tão envergonhados que não querem colocar a cara a tapa. Se esconderam porque foram enganados. Alguns sabiam desse desserviço que estavam fazendo com a sociedade brasileira e outros desavisadamente se deixaram levar por este nefasto golpe. Não admitem o erro em apoiar toda essa sistemática que hora se apresenta no país, que praticamente está sem investimento, nível de desemprego crescente e a tendência é piorar. Então a coisa é gritante. A saída evidentemente é buscar outros mecanismos, voltar as regras normais do país, chamar para uma eleição geral porque nem esse Parlamento e esse governo ilegítimo tem moral para resgatar e debater com a sociedade fazendo com que o país volte a crescer. A permanecer o desmonte desses ilegítimos que tomaram de assalto a presidência da República com o conluio do tripé mídia, legislativo e judiciário, a tendência é continuarem a tomar atitudes ilegais e o país continuar descendo a ladeira como tem sido até agora, principalmente nestes últimos seis meses.

Mídia alternativa X Mídia Golpista. Como fazer o enfrentamento? - É muito desigual, esse é o desafio que nós temos, de como chegar ao seu João, à dona Maria e fazer com que eles compreendam quais são os riscos que o país está passando para o futuro das novas gerações. Esse é um dos desafios que o XII Concondsef vai travar, tanto é que nós abdicamos de alguns debates para focar na busca de alternativas de como enfrentar esse acirramento. Como disse no início, vamos ter que sair do nosso quadrado. O debate tem que ser com a sociedade, que é quem elege os políticos, para que a gente qualifique melhor essas escolhas. Não sei se a curto, mas a médio prazo a gente talvez possa dar um cavalo de pau de 360 graus e voltar a ter um país que há pouco tempo eu tinha a expectativa de que era ideal.

No XI ConSindsep houveram cobranças ao movimento sindical para uma nova linguagem com a sociedade. É complicado isso? – Difícil não é. Às vezes o difícil é a gente convencer os nossos companheiros de que esse debate é urgente e que temos que ampliar o leque dessa discussão. O cenário que está apresentado não vai permitir a gente sentar à mesa para negociar salário se for efetivado essa PEC. Então, se não vamos ter a oportunidade de discutir avanços nós temos que dedicar boa parte do nosso tempo para convencer a sociedade para somar com a gente, para uma ofensiva, uma reação, mesmo neste curto prazo de tempo.

2018 esta aí, batendo na nossa porta. Temos ao menos que preparar as nossas bases, nossa plataforma e achamos que é possível mudar o cenário do Parlamento. O problema é que investimos muito nos últimos períodos, na figura de eleger os presidentes da República e esquecemos da dar foco no Parlamento, que é quem define tudo, que manda neste país. É o que está acontecendo. Hoje, quando muito, temos em torno de 100 a 120 parlamentares que defendem os temas de interesse da classe trabalhadora. O restante está comprometido com os seus setores, a classe empresarial, a burguesia. Com um cenário desse, não vamos prosperar. Temos que priorizar esse debate de mudar esse Parlamento e que acho possível, já que, pelo menos em tese, acabou o financiamento privado de campanha e isso iguala e nivela um pouco mais essa relação de forças.

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