Terça-feira, 24 de  dezembro de  2024 

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Anti-funcionalismo público, Governo descarta ajustes; entidades lutam

Antes mesmo de se declarar pré-candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro já deixava evidente seu posicionamento com relação aos servidores públicos. Considerados pelo militar como a raiz da crise econômica brasileira, trabalhadores do Estado têm à frente um futuro desfavorável. Desde janeiro, entidades sindicais se desdobram para proteger os servidores das mudanças anunciadas pela nova gestão do Palácio do Planalto. Extinção de Ministériosproibição de ajustes salariais e realização de concursos públicos, possibilidade de fim do reajuste linear garantido pela Constituição Federal, encerramento da aposentadoria pública e outras medidas exigem esforços redobrados dos sindicatos para proteger os direitos da categoria.

Para o Diretor da Condsef/Fenadsef, Sérgio Ronaldo da Silva, o contexto pede esforço geral dos servidores públicos. "As entidades sindicais estão sofrendo um processo de fragilização grave por conta da Medida Provisória 873 de Bolsonaro [que alterou a forma de financiamento das organizações]. Querem nos silenciar porque somos nós que temos denunciado as tentativas de desmonte do Estado e porque nós brigamos em defesa de quem faz a máquina girar. Para garantirmos nossos direitos agora, precisamos de mobilização de todos e de gente nas ruas. A situação é crítica", convoca Sérgio.

Salários

Em março, a Condsef/Fenadsef participou do lançamento da Campanha Salarial unificada, em que entidades entregaram ao diretor do Departamento de Relações do Trabalho no Serviço Público Federal, Cléber Izzo, solicitação com 22 pontos defendidos pelos fóruns, Fonasefe e Fonacate. O documento incluiu correção salarial com índice próximo de 33%, calculado por Dieese e Sinal. A defesa era para que índice fosse aplicado até janeiro de 2020. Entretanto, há dez dias, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias 2020 (PLDO), anunciado pela equipe de Paulo Guedes, proibiu o reajuste salarial de todas as carreiras federais, exceto de militares

Concursos públicos também foram vetados para o próximo ano. Dos cerca de 650 mil servidores do Executivo em atividade, 50% devem se aposentar até 2021. Nos últimos dois anos mais de 215 mil servidores já se aposentaram e mais de 100 mil ainda atuam recebendo o chamado abono permanência. Sem reposição dessa força de trabalho, o Estado será desmontado e brasileiros podem ficar sem atendimento público. A intenção do Governo é substituir os serviços por terceirização e privatizações.

Ao completar 100 dias de gestão, o Ministério da Economia declarou ter arrecadado US$ 12,1 bilhões em privatizações, concessões e desinvestimentos. O anúncio foi feito em evento organizado pelo Banco Itaú. "A partir disso, percebe-se quais os objetivos do Governo e do lado de quem ele está administrando o País", aponta Sérgio Ronaldo. Enquanto desde 2000, pelo menos 884 serviços foram reestatizados no mundo, o Brasil está entregando suas estatais. Pré-sal e Eletrobrás devem ser vendidas ainda neste ano, segundo anunciado pela equipe de Guedes.

Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou que o serviço público “é uma fábrica de marajás”. O discurso lembra uma realidade dura vivida no passado, quando Fernando Collor também fez a mesma comparação e exonerou dezenas de funcionários.

Recordar é viver

Entre os anos de 1990 e 1992, o presidente Fernando Collor de Mello demitiu em todo o País cerca de 120 mil empregados e servidores públicos. Desde então, as entidades sindicais vêm lutando para reintegrar os demitidos ao serviço público. A primeira conquista veio em 1994, quando Condsef/Fenadsef, CUT e sindicatos locais conseguiram, no Governo de Itamar Franco, a publicação da Lei nº 8.878 que anulou as demissões, mas atrelou o retorno ao serviço público à formulação de requerimento específico em prazo de 60 dias. Neste processo, foi concedida anistia a 42 mil trabalhadores. 

Em 1995, o presidente Fernando Henrique Cardoso interrompeu o processo de retorno e anulou grande parte das anistias já concedidas. Em 2004, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, honrando um compromisso de campanha, editou os Decretos nº 5.115 e 5.215, que instituíram a Comissão Especial Interministerial (CEI) para analisar em 180 dias os atos administrativos que promoveriam a volta dos demitidos do Governo Collor ao serviço público.

Mais preocupações

O congelamento salarial dos servidores se soma a uma lista extensa de lutas da Condsef/Fenadsef neste contexto. São diversos os contingenciamentos que o Governo determinou para as carreiras públicas. Para cada ataque, as entidades sindicais se mobilizam para defender suas categorias. A ameaça de encerramento da previdência pública tem tido atenção especial. A mudança cruel que atinge todos os brasileiros passou recentemente pela CCJ da Câmara e agora segue para a Comissão Especial. Novamente com o discurso de combate aos "privilégios" dos servidores públicos, o Governo chantageia e tenta comprar os parlamentares para aprovarem o desmonte da Previdência, que vai beneficiar somente os grandes empresários, que devem quase R$ 500 bilhões ao INSS.

Se os sindicatos são a maior resistência à PEC 6, que altera o regime previdenciário do País, Bolsonaro publicou às vésperas do Carnaval uma Medida Provisória que estrangula o financiamento das entidades. A defesa do Estado Mínimo para o presidente eleito parece não se aplicar à economia particular das organizações sindicais. Diante disso, semanalmente os dirigentes estão realizando atividades de mobilização nas ruas e de articulação no Congresso para impedir a consolidação das determinações da PEC 6 e da MP 873, sem contudo deixar de brigar pelos reajustes salariais e contra o congelamento de gastos.

Revoga o Teto

Esse colapso no setor público já vem sendo alertado desde a aprovação da Emenda Constitucional (EC) 95/16, no final de novembro de 2016. O  Fórum de Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), do qual a Condsef/Fenadsef faz parte, promove uma campanha permanente pela revogação do chamado "Teto dos gastos". 

Na prática, a EC 95/16 congela investimentos públicos por 20 anos. Sem esses investimentos, o Brasil, na visão de centenas de especialistas de diversas areas, desde econômica, jurídica, passando pela social, entrará em colapso até 2024. Não bastasse a decisão de Temer, da qual Bolsonaro foi defensor e votou a favor de sua aprovação, Paulo Guedes proibiu recentemente a realização de novas contratações de bens e serviços para a Administração Pública. 

Sem estrutura, a qualidade do trabalho dos servidores, que já é precária, é afetada. "Os órgãos federais já não têm equipamentos e ferramentas para atuação de suas funções. Falta transporte, falta máquinas de escritório, falta prédios que tenham estrutura segura para os funcionários. Vamos para mais um ano com a corda no pescoço. São mecanismos que menosprezam a atuação dos servidores", comenta Sérgio Ronaldo. "Precisamos de condições para realizarmos nosso trabalho e atendermos bem a população, com a dignidade que todos merecem." 

"Projeto Unifica" vai definir futuro funcional de servidores do ex-MTb

Representantes do Ministério da Economia, onde os ex-MTb estão lotados, informaram que até fim de maio devem apresentar esboço da nova estrutura. Uma nova reunião foi confirmada para 9 de maio 

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'Digitalização' defendida por Guedes mostra desconhecimento do papel do Estado

 

Mais um discurso do governo Bolsonaro tem gerado preocupação. Há algumas semanas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que segue insistindo no fim da aposentadoria dos brasileiros com a reforma da Previdência (PEC 6/19), declarou que não pretende realizar concursos públicos nos próximos anos e que o governo deve "investir na digitalização". Com isso, a Condsef/Fenadsef acredita que o ministro passa um atestado de desconhecimento do que significa e representa o Estado e todo o setor público, bem como o que assegura a Constituição brasileira a respeito.

Seguem apreensivos aqueles que esperam ver ideias, propostas e projetos que tirem a economia e o Brasil da estagnação em que foi colocado. Um cenário agravado nos últimos anos por sucessivas crises políticas e institucionais. Muitos podem ser levados a achar que a tecnologia, estampada na chamada indústria 4.0, pode ser o caminho para serviços públicos mais eficazes. Para a Condsef/Fenadsef, há um perigo e um grave equívoco nesse discurso.

Uma diferença importante precisa ficar clara para a população usuária e que tem direito constitucional de acesso a serviços públicos: política pública se faz com pessoas, para pessoas. "Uma coisa é pensar a tecnologia como aliada. A outra é abrir mão de pessoas em serviços onde elas são indispensáveis", destaca Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Condsef/Fenadsef. 

Quando se fala em atendimento público não é possível imaginar um cenário sem servidores para executar serviços essenciais. São muitos os serviços que exigem para além de capacidades específicas, a presença de trabalhadores, equipes bem estruturadas, pessoal qualificado, para que o serviço seja fornecido com qualidade. "Casos como o episódio em Brumadinho mostram o grande alcance que o Estado e o setor público têm na vida das pessoas", pondera Sérgio.  

No dia a dia e nas emergências

Em Brumadinho foi possível ver a atuação de servidores públicos desde o primeiro momento, no socorro imediato a vítimas, feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde), até na necessidade visível de aumentar a capacidade de fiscalização, ou seja, aumentar o número de servidores, claramente insuficiente para a tarefa de fiscalização de centenas de barragens que está só em Minas Gerais, fora outras demandas, o que deveria anteceder o episódio e envolve também a punição daqueles que explorem nossas riquezas e afetem vidas e o meio ambiente. 

Ainda no episódio em Brumadinho, a importância do setor público pôde ser vista na atuação de pesquisadores de universidades públicas que na ocasião foram imediatamente acionados e buscaram formas de evitar que a lama atingisse rios importantes do País. O atendimento a afetados, comunidades indígenas inclusas, que viviam da pesca de rios atingidos pela lama, também foi tarefa do Estado. "O serviço público está não só em nosso cotidiano de muitas formas, mas também em momentos de grande emergência para o conjunto da sociedade, como em chuvas fortes como as que atingiram ontem e hoje o estado do Rio”, lembrou Sérgio. “Devemos defender o setor público, pois pagamos impostos para que a União nos devolva em serviços que são também um direito de todos nós", pontua o secretário-geral a Confederação. 

Vinte anos sem investimento

A própria intenção de Paulo Guedes de investir na ‘digitalização’ no setor público pode ser um desafio a não ser cumprido. Aprovada no final de novembro de 2016, durante governo Temer, a Emenda Constitucional (EC) 95/16 congela investimentos públicos por até 20 anos. Não há no mundo precedente para duas décadas de uma política de austeridade dessa amplitude. As consequências já estão sendo sentidas com cortes bilionários em setores estratégicos ao Brasil. Na educação houve um corte recente de mais de R$ 5 bilhões. Somado a venda de estatais importantes e que geram desenvolvimento ao País, o cenário futuro é preocupante.

Na direção do que propõe Guedes, a Condsef/Fenadsef acredita que computadores e tecnologia podem ser aliados importantes. Em pesquisa, educação, na cultura, na preservação de nossas memórias, na aplicação de técnicas que podem garantir até mesmo economia, mas certamente não terão a mesma eficiência em outros campos. Pensemos nos servidores que prestam atendimento à saúde, na tarefa de formar dos professores, nos servidores que promovem o controle e combate a endemias, muitos arriscando a vida em trabalhos insalubres. 

Pensemos naqueles que também se arriscam para garantir fiscalização no trabalho, para assegurar o cumprimento de leis, no combate à exploração de outros trabalhadores, na defesa do meio ambiente e também na fiscalização de nossas receitas, no combate à sonegação que só em um ano nos deixou com menos R$500 bi no orçamento, naqueles que atuam na agricultura, no controle sanitário, nos transportes, na segurança, enfim, na implantação de políticas públicas que melhorem a vida dos brasileiros. Pensar a administração pública como mera burocracia, como apenas "gasto" e não como investimento, é negar aos brasileiros a possibilidade de um País desenvolvido.

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Retirada de direitos sociais e reajuste aquém do merecido são condição imposta pela empresa pública para assinatura do novo ACT. Prorrogação do documento vigente encerra em 30 de junho 

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